Primeiro, os detalhes




Sou desse tipo de gente detalhista.
Noite passada percebi que sou. Os detalhes dos outros não deixavam-me dormir.
Ficava pensando no jeito de amarrar os cadarços da mulher que senta na minha frente. Como estavam enosados, entrelaçadinhos, de uma forma bem irregular.
Pensei também nas unhas roídas daquele beirando os trinta. Analisei que deve ser muito ansioso, pois além do vício das unhas, já o vi fumando cigarros largos na porta da faculdade.
Me admiram as pessoas e suas manias ímpares.
Nossos detalhes nos fazem individuais. Tiram-nos da habtuidade de fazer parte do todo.
Gosto de reparar nas coisas, e pensar nelas antes de adormecer.
Sempre sonho coisas intensas.
Talvez, um cadarço não seja lá grande coisa para muitos, mas digo com uma certa impiedade, que podem dizer mais de si do que muitos sorrisos de plataforma.
As mãos falam.
Dê um cuidado a elas, abrem mais portas do que se possa contar.
Ainda de tudo isso, o que mais me intriga são os olhos.
Não se decifram tão facilmente. Dissimulados e profundos, demoro certo tempo até conhecer alguém pelos olhos.
Mas quando o faço, faço bem, e por inteiro.
Até chegar lá n'alma, e encostar devagar no âmago de quem desvendo.
Por isso penso que os detalhes da íris são tão particulares.
Prefiro observar, do meu jeito, e acreditar na veracidade dos detalhes.
Talvez é o que faça da minha vida tão intensa, e quente.
Eu sinto tudo, desde a pequenez das coisas, até fazê-las as mais importantes.
Aquele vento que sopra o barco, dando a direção, sempre foi mais importante para mim do que o destino que o barco precisa alcançar.

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