


Entre um gole e outro de café, S me contava brisas de um passado. Como quem abre um livro velho, ia tirando as memórias e sacudindo-as para espantar o pó. Dizia-me de um desamor que deixou para trás, e que em seu dia tivera cruzado. Via abrir-lhe o coração a cada articular dos lábios. Era fácil entender o caso em sua voz. Sucedeu que S me ensinou algo sobre o amor, falando no contraste do próprio. Em todos os seus exageros, e futilidades mentais, pude encontrar em mim um risco.
Um risco só, de certezas. Certeza de que, saber bem do amor ninguém sabe.
Mas do desamor, sempre se tem certeza. E às vezes mais do que certeza, tem-se um pesar de arrependimento todo nos braços.
Para o ser que vive a vida em busca de um amor, digo-lhe que desista. Que comece pela outra ponta.
Pelo incerto, pelo frágil, pelo chão.
Que não queira chegar sentindo o céu e o inferno no corpo do outro.
Que não busque um complemento de alma, um encaixe de quadril, um cheiro para embriagar-se antes de dormir.
Que comece do jeito contrário. Não no querer saber o que é, mas justamente, sabendo o que não é.
Para então quando chegar o que de fato é forte, seja como respirar um sono pós mar.
Seja como carregar flores.
Que não seja amor.
Apenas que não seja desamor.
É o que lhe disse, entre um gole e outro.
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