eu encontrei você
em uma noite
em que eu queria mesmo
era encontrar
n a d a.

mas,
se eu te reconheci
no meio daquela calçada
e dividi com você
um par de olhos grandes
aonde eu carrego um mundo,
era porque,
antes de você,
eu precisava.

gosto de pensar
que as horas gastas
na sua presença
foram um abraço
que eu quis dar 
na minha própria 
existência.

porque se eu me permiti
viver você,
eu me permiti 
viver.

e que bom
que foi
tudo.

tudo,
mesmo.


[a elasticidade como a gente se comunica faz tudo parecer menos perene.]



se eu voar 
pra dentro dos meus medos, 
será que desvendo 
todos os mistérios? 


e voando 
direto 
pra você, 
será que volto 
pra um lugar 
que não é meu? 


o medo 
nos impede 
de ter 
vivências 
lindas. 


o medo 
nos deixa em 
lugares 
esquecidos, 

num mar de 
pura 
estagnação. 


a minha prece 
é ter coragem 
pra alçar 
vôos 
maiores 
do que 
o medo 
de não 
voar.



 

eu deixei você 
me atravessar 
como se eu fosse 
uma rua larga 
cheia de faixas 
de gentes 
perdidas 
em suas cotidianas 
horas de outono. 


e eu esperei você 
do outro lado 
como se você fosse 
alguém 
que eu queria muito 
re(vi)ver. 


se eu disser que 
isso tudo aqui 
já aconteceu, 
você vai voltar 
e desatravessar 
a rua? 
e desatravessar 
a vida 
toda? 


e se eu 
disser que 
quero esperar você 
em todas as ruas 
que ainda nem existem, 
você vai 
percorrer 
outras calçadas 
pra me esperar? 

porque 
eu 
sei 
que 
posso 
esperar 
mais 
sete vidas 
ao deus dará 


só pelo prazer 
que é ver 
você 
chegando 
aqui 
do outro 
lado 
da rua, 

só pelo prazer 
que é sentir 
você 
me atravessar 
outra 
vez.




.home. Sem título Sem título




dois olhos azuis
cansados
e pesados
no meu ombro

duas mãos 
de dedos longos
em volta 
do meu 
pescoço

tão sutil
a sua tristeza
que pareceu 
um afago

um abraço azul
dos olhos mais
oceânicos
que 
eu já
vi (?)

eu sei que
mergulhei
bem fundo
na dor de ter você aí
numa casa que não é minha,
e numa dor que não 
é minha
propriedade.

a dor de ter
uma
presença
física

ter o
nada
ou ter
o tudo
que eu jamais
vou conseguir
acessar.

mas se você quiser
eu meto a mão aí dentro
dessa água densa
e te puxo 
pra respirar 
só um pouquinho
do meu lado,
nem que seja só
uma noite
aonde a gente se enrosque
e se encoste
pelo coração.

peito adentro
tudo vai bater
igual mesmo.

quando amanhece
a gente esquece
e tá bom assim
porque carinho 
é grátis
e ainda
dá 
pra entregar
pela via expressa 
da contramão.